"A menina do desastre", a famosa imagem de Zoë Roth quando ela tinha 5 anos em frente a uma casa em chamas, é uma das mais compartilhadas nas redes sociais há anos.
Seu rosto travesso, ou malévolo, depende de quem vê, tornou-se um clássico, como algumas das fotografias e pinturas das mais terríveis tragédias da história.
A jovem, hoje com 21 anos, aproveitou a fama de sua imagem e a vendeu por US$ 500 mil (R$ 2,7 milhões), valor suficiente, segundo ela, para pagar dívidas estudantis, distribuir entre a sua família e doar para instituições de caridade.
Roth vendeu a propriedade da imagem em um leilão no final de abril como um token não fungível (ou NFT na sigla em inglês), um certificado de propriedade digital.
Um colecionador chamado @3FMusic foi quem pagou a quantia, por meio de criptomoedas.
Mas qual é a história por trás do meme? E quando se tornou viral?
Um golpe de sorte
Em uma entrevista recente ao site BuzzFeed, Zoë Roth contou que tudo começou em uma tarde de 2005, quando ela tinha 5 anos e assistia à televisão com a família.
Foi então que eles ouviram as sirenes dos bombeiros.
"A cerca de dois quarteirões de nossa casa, havia fumaça saindo e fomos ver o que estava acontecendo", lembra a jovem.
O pai, que gostava de fotografia e havia comprado uma câmera recentemente, decidiu levá-la ao local do incêndio.
Quando chegaram, segundo a jovem, pensaram que era um incêndio de verdade, mas ao verem a atitude tranquila dos bombeiros perceberam que algo diferente estava acontecendo.
Eles logo souberam que os proprietários tinham doado a casa para o Corpo de Bombeiros para que eles a incendiassem em um exercício de treinamento, criando um "incêndio controlado".
"Meu pai estava tirando fotos da casa quando me disse que era hora de sorrir. Ele me pediu para sorrir e é por isso que eu fiz aquela cara. Era assim que eu sorria naquela época", disse a jovem.
Mas até então, a foto era apenas uma muitas outras tiradas naquele dia.
Da foto ao meme
Fim do Podcast
Tudo mudou quando o pai dela enviou a imagem para um concurso de fotografia de uma revista especializada com o tema "emoções na fotografia". A foto venceu o concurso e a partir de 2008 ela passou a viralizar e a ser usada como meme.
O sorriso de Roth passou a ser colocado sobre outras imagens de desastres como o naufrágio do Titanic ou a queda e incêndio do dirigível Hindenburg.
"As pessoas apenas fazem com que ela se encaixe em qualquer imagem", disse Roth ao New York Times. "Adoro vê-los (os memes) porque nunca faria nenhum deles, mas adoro ver como as pessoas são criativas."
A jovem disse que ficou surpresa ao ver como o meme com seu sorriso supostamente malicioso sobreviveu ao longo dos anos.
"Pessoas que estão nos memes e se tornam virais é uma coisa, mas a maneira como a internet se agarrou à minha foto e a tornou viral, mantendo-a relevante, é uma loucura para mim", disse ela ao New York Times.
O mercado de NTFs
O mercado dos direitos de propriedade de arte digital explodiu neste ano, após várias vendas multimilionárias dos NFTs.
Um NFT é um token digital único, criptografado com a assinatura de um artista, que verifica a propriedade e a anexa permanentemente à peça, permitindo que versões originais de conteúdo online popular, como memes virais e tuítes, sejam vendidos como se fossem obras físicas de arte.
O NFT é marcado com um código que permitirá à família Roth manter os direitos autorais e receber 10% das vendas futuras.
Em 19 de fevereiro, um gif animado de Nyan Cat, um meme de gato voador de 2011, foi vendido por mais de US$ 500 mil (R$ R$ 2,7 milhões).
Algumas semanas depois, o fundador do Twitter, Jack Dorsey, fez um NFT do primeiro tuíte de todos os tempos, com ofertas chegando a US$ 2,5 milhões (R$ 13,6 milhões).